Amanhã vou ter de falar, enjoar da minha voz e me levar a sério.
Vou ver as coisas com os olhos mortos, vou sentir cheiros e ignorá-los, vou andar pela cidade sem percebê-la. Vou falar com as pessoas sobre coisas não-eternas, sem importância e que não farão sentido algum.
Vou deitar na minha cama e querer tirar tudo o que vivi da minha mente no fim do dia. As imagens nos meus olhos mudarão, e então voltarei a ser eu mesma. Talvez volte a viver ao cair da noite.
Tuesday, June 09, 2009
Você era o perfil ideal; tudo o que poderia ser perfeito, e aposto como o foi para muitas pessoas. Foi se esvaindo como algo insustentável, algo forjado para receber afeto e admiração apenas; mas não previu que os olhos se voltariam para outras belezas, e a sua ficaria obsoleta, insípida e, sem prever como os anos derrotariam sua força de vontade em ser um exemplar de algo imitável, honroso e justo, ainda sem saber como tudo se tornaria tão sério até mesmo para você, sem saber que os julgamentos pesariam e as palavras soariam muito mais literais (...), como seu vocabulário primeiro se resumiria e depois haveria uma falta incalculável de palavras e memória(s) para dizê-las. Agora, você precisa de alguns anos a mais, já que as aventuras prometidas não chegaram até você. Você precisa viver algo inesquecível qualquer dia desses, porque não se sabe até quando vai poder viver algo...
– Mas agora não dá, ficou tarde e preciso acordar cedo amanhã.
Thursday, May 14, 2009
Esta noite não vou dormir.. amaldiçoada pelo amor que acabou, por aquela velhice que chegou, pelos barulhos que não estão ao alcance dos meus ouvidos. Talvez pela inversão de algo. Talvez por esta ansiedade que beira meu pulmão, que me faz salivar e me sentir jovem de novo.. Algo assim como não sentia há tempos, que faz desejar. Talvez o amor não acabado, mas começado.
Tuesday, February 17, 2009
Havia um país... sua população estava sempre no limite. Mesmo assim todos tinham sempre aquela sensação de ausência, e um confuso misto de saudade e alívio, assim que saíam de suas fronteiras. Era uma nação violentada pelas influências do passado e pelos imigrantes sem raízes que chegavam a todo momento. Assim, seu povo sofria de uma espécie de crise de identidade que era um mal coletivo e, ao mesmo tempo, extremamente individual, fazendo com que todos olhassem com desconfiança a formação de ideologias de seus conterrâneos. Havia violência e pobreza, e corrupção entres seus governantes, que afinal não sabiam mais como manter a ordem, e então se agarravam a anos de história que a juventude cada vez mais desprezava. Vivi pouco tempo nele, mas o suficiente para saber que não quero voltar a nenhum lugar daquele continente, tomado pelo tédio, pela melancolia, pelo ódio e pela corrupção... talvez apenas observá-lo de longe, e saborear sua nostalgia, algumas boas lembranças e esta confissão.